Não por coincidência a
Bahia tem o privilégio de possuir entre suas filhas da terra, excelentes
cozinheiras. Já desde meninas, tomam conhecimento dos segredos da arte de
cozinhar, muitas vezes recebidas das avós, senhoras de seus dons, de origem
africana. Na reverência aos orixás, a culinária baiana tem sua riqueza; e
conhecer estes pratos é uma oportunidade ímpar, pois não é qualquer lugar se
prova ou saboreia tais requintes gastronômicos.
Pois foi em uma dessas
oportunidades que a vida nos reserva, que tive o prazer de conhecer Flora,
companheira de meu grande amigo Ismael – um profundo conhecedor de jazz e bossa
nova – que me fez gostar mais ainda destes dois estilos musicais.
Mas é de Flora que quero
falar. Nome este, tão parecido com o de D. Flor, aquela dos dois maridos, fundadora
da Escola de Culinária Sabor e Arte, tão bem retratada pelo mestre Jorge Amado. Pois bem, Flora tem o dom de cozinhar; e
por ser baiana isto não é mais uma originalidade. É uma constatação.
Flora é daquelas pessoas
com quem você simpatiza de imediato. Daquelas baianas, tamanho G, com atributos
que os portugueses – o da padaria e o do botequim – suspiravam quando ela
passava com seu balanço cadenciado. Suspiros lusitanos, a sonhar com imagens
impossíveis de serem realizadas.
Peixadas, tortas de camarão,
moquecas, manjubinhas fritas, acarajé, vatapá, galinha de cabidela, mocotó,
feijoada, “porquinho” frito, caldinho de sururu e bobó de camarão, eram suas
especialidades. Babávamos literalmente, ao sermos honrados com um ou dois
pratos daquele cardápio, cada vez que íamos a casa deles, para ouvir disco,
falar de política, dos filmes e no meu caso, também ver Flora cozinhando e
tentar aprender um pouco de como fazer aquelas delícias.
Aprendi algumas. Das que
aprendi, o bobó de camarão foi uma das que mais fez sucesso nas vezes que fiz.
Ainda bem, pois não poderia decepcionar minha professora, pois se ela o fazia
tão bem, era um dever meu chegar o mais próximo possível. Ah! Minha professora,
que saudades. Por onde andarás? Não lhe vejo há muito, desde que vim do Rio de
Janeiro para Brasília.
Escrevo hoje, esta receita
de Bobó de Camarão, em sua homenagem. Lembrando-me daquelas noites de
convivência contigo e com Ismael, degustando a nata da cozinha baiana. Fica com
Deus minha amiga!
Ingredientes
1,5 kg de mandioca (das amarelas é bem
melhor)
500 g de mandioquinha (batata baroa)
1 kg de camarão GG (sem cabeça e sem casca)
200 g de camarão sem cabeça, com casca
1 cebola grande bem picada
5 dentes de alho bem picados
1 litro de leite de coco
1 colher de sopa de azeite de dendê*
pimenta (opcional)
Azeite extra virgem
Sal a gosto
* Obs.: Para quem não gosta de
azeite de dendê, substitua por açafrão espanhol.
Modo
de fazer
Descasque a mandioca e coloque-as para
cozinhar em água fervendo. Adicione sal a seu gosto. Faça o mesmo com as
mandioquinhas em outra panela. Deixe cozinhando até que fiquem bem macias,
desmanchando mesmo. Quando a mandioca estiver cozida, retire os talos fibrosos
do meio dela. Amasse-a bem, formando uma massa uniforme, sem “caroços”. Faça o
mesmo com a mandioquinha. Reserve.
Em uma panela de barro (pode ser outra, mas
essa é mais original, concorda?), coloque azeite em boa quantidade e doure a
cebola e o alho, até ficar bem dourados – atenção, para o alho não ficar
escuro. Adicione os camarões e deixe cozinhando de 8 a 10 minutos, em fogo
baixo (160º). Tempere com sal e pimenta, a seu gosto.
Quando estiverem cozidos, coloque a massa da
mandioca e da mandioquinha. Acrescente o leite de coco e mexa com cuidado até
formar um mingau. Corrija o sal, se necessário. Adicione o azeite de dendê (ou
o açafrão). Mexa até ficar bem amarelinho. Deixe cozinhando por cerca de 10
minutos, sempre em fogo baixo. Se quiser, coloque a pimenta de sua preferência.
Assim que estiver formando bolhas, está pronto. Sirva quente.
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