Não é de hoje que uma alimentação mais natural faz
parte da rotina de quem se preocupa com a saúde. Desde o final da década de 60
que vejo vários movimentos focados nesta “tendência ideológica”, podemos assim
dizer. Já naquela época era forte o movimento da “turma macrobiótica”; depois,
já nos anos 70/80 a coisa liberou um pouco e veio a turma “natureba”, mais
preocupada com a qualidade dos alimentos e abolindo os alimentos enlatados e a
carne vermelha do seu cardápio. Infelizmente, porém, nunca houve restaurantes
que se dedicassem a implementar com mais intensidade este tipo de cardápio mais
saudável. Os que existiam, sempre estiveram na lista dos estabelecimentos de
alimentação “alternativa”. Estranho isto, não? Considerar alimentação saudável
como “alternativa”, quando deveria ser o contrário, comer "porcaria"
seria a última ou única opção!
Hoje em dia, já no século vinte e um, vimos que
esta preocupação ampliou-se e vemos que tanto produtores agrícolas quanto
consumidores, têm uma consciência mais voltada à produção e consumo de produtos
ecologicamente mais sustentáveis.
Já podemos, inclusive, encontrar uma vasta
bibliografia sobre este assunto; e não é difícil encontrarmos chefes de cozinha
renomados, assinando receitas que só usam produtos frescos e sem agrotóxicos.
A boa novidade estende-se a proliferação de
restaurantes que aderiram à linha ecogastronômica – movimento que defende o uso
de ingredientes frescos, sem agrotóxicos e sem conservantes químicos;
valorizando sabores locais e levando em conta o trinômio: consciência ambiental
– responsabilidade social – biodiversidade ecológica.
A ecogastronomia é o futuro. Cada vez mais, as
pessoas se preocupam em saber a origem dos alimentos que consomem e como eles
são produzidos,
afirma a chef Alice Mesquita, da Alice Brasserie.
Mas não pensem que seguir a linha ecogastronômica é
renunciar as carnes ou outros tipos de proteína animal. Não precisa tornar-se
um vegan, basta utilizar alimentos orgânicos, evitar frituras e
jamais usar produtos químicos (corantes, conservantes, antioxidantes e outros
tantos) encontrados em produtos industrializados.
As condições e elementos fundamentais da
ecogastronomia são:
Dieta equilibrada: recuperando hábitos
alimentares tradicionais;
Alimentos locais, da época, de
variedades tradicionais, artesanais ou silvestres;
Alimentos produzidos em modo biológico
ou biodinâmico;
Alimentos a varejo;
Relação direta do produtor com o
consumidor; e
Rejeitar os alimentos transgênicos,
alimentos refinados e processados industrialmente.
Quando falamos em ecogastronomia,
temos como referência o movimento Slow Food, movimento criado em 1986, por
Carlo Patrini, na região italiana da Toscana na sequência dos protestos
populares contra a instalação de um restaurante da cadeia multinacional McDonald’s,
na Piazza di Spagna, em Roma, um dos locais mais emblemáticos da capital
italiana, e constituiu-se formalmente numa associação internacional sem fins
lucrativos em 1989.
Com mais de 100.000 associados pelo
mundo, a filosofia da Slow Food defende a necessidade de
informação do consumidor, protege identidades culturais ligadas a tradições
alimentares e gastronômicas, protege produtos alimentares e comidas, processos
e técnicas de cultivo e processamento herdados por tradição, e defende espécies
vegetais e animais, domésticas e selvagens.
Aqui em Brasília, existe um movimento
nesta filosofia de sustentabilidade, que por meio da Associação dos Produtores
Rurais do Lago Oeste Asproeste, juntamente com a Emater/DF, vem incentivando os
produtores rurais a mudarem antigos conceitos e práticas de agricultura
predatórias para uma prática sustentável, onde natureza e a atividade agrícola
convivam em harmonia, trazendo benefícios a todos.
O Núcleo Rural do Lago Oeste fica localizado a 35
km de Brasília, tendo por “vizinho” o Parque Nacional de Brasília. Por esta
condição de vizinhança, é que a associação e diversos produtores vêm
trabalhando em conjunto. Atualmente encontramos produtores de café orgânico, de
suco de uva, pimentas, temperos, cogumelos, verduras, legumes e frutas. Além
disso, a associação tem por uma de suas metas, propiciar aos moradores da
região e mesmo a população de Brasília a aquisição de produtos orgânicos e até
mesmo serviços com qualidade sustentável, inclusive na área do turismo. Isto tem
chamado à atenção de alguns empresários, que já estão de olho na área, com a
pretensão de abrir pequenos bistrôs e até mesmo restaurantes voltados a
ecogastronomia.
Mais uma opção para Brasília, merecedora do título
de 3º pólo gastronômico do país e quem sabe, um dia, torne-se o primeiro pólo
ecogastronômico do país.
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