Visitando o site Armazém das
Especiarias, me deparei com uma matéria bem interessante, que eles publicaram
na coluna “Médicos que cozinham”, assinada pelo médico cardiologista, Fernando
Oikawa; paraense, que está morando em São Paulo e fazendo doutorado em coronariopatias
e arterioesclerose.
Não se surpreenda por um
médico “receitar” algo que possa lhe parecer exótico, pois a surpresa maior
será saber que o que ele “indica” faz bem à saúde.
O texto é “saboroso” e interessante
do ponto de vista nutricional, com uma pitada de informação histórica a
respeito de um prato típico do Pará – o Tacacá.
Transcrevo na íntegra o
texto, convidando a todos a visitar a página do Armazém das Especiarias, pois tem muitas outras informações bem
interessantes a respeito do universo gastronômico.
Boa leitura e bom apetite!
Estava eu, no meu dia-a-dia hospitalar, neste clima flutuante de São
Paulo das últimas semanas, e me veio à cabeça o que eu estaria fazendo
nesta época em minha região. Certamente estaria na praia, já que a região Norte
encontra-se em pleno “verão”!! Praias típicas como Salinas, Mosqueiro e Algodoal,
nesta época, enfrentam o mormaço infernal dos trópicos, abarrotadas de pessoas
nativas e turistas; porém, apesar deste calor, os nortistas continuam a
apreciar as iguarias amazônicas, mesmo tendo sabores fortes e picantes; foi
neste contexto que me lembrei de um prato muito típico (talvez o mais típico e
tradicional da região Norte), o qual sempre saboreei em plena tarde quente de
Belém, o Tacacá!!! Muito nutritivo, afrodisíaco, exótico, de baixa caloria e
delicioso o Tacacá é uma verdadeira viagem nos sentidos, sendo encontrado
principalmente nos estados do Acre, Amazonas, Pará, Rondônia e Amapá.
Sua origem é dos indígenas paraenses e, segundo Câmara Cascudo, deriva
de um tipo de sopa indígena denominada mani poí. Câmara diz que “Esse mani poí fez nascer os atuais tacacás, com
caldo de peixe ou carne, alho, pimenta, sal, às vezes camarões secos”.
Historicamente, seu primeiro registro ocorreu no século XVIII, em plena
Inquisição onde existe um documento que descreve o assassinato de uma mulher
pela índia que trabalhava para ela: “…a morte foi consumada por um tacacá
envenenado”, narra o historiador Aldrin Figueiredo.
Esta delícia é preparada com um caldo fino e bem temperado chamado tucupi (sumo este extraído da mandioca
formando um líquido amarelo e encorpado), a goma de tapioca (resultado da lavagem da mandioca
ralada, tem um aspecto diferente, como uma geleia levemente branca), camarões
seco e jambu (erva típica da região Norte, ela dá a
famosa sensação de tremor nos lábios e adormecimento na língua). Para montarmos
o prato ou a cuia (utensílio indígena onde é servido), colocamos
primeiramente um pouco do tucupi e o caldo da pimenta-de-cheiro (cumari);
acrescentamos a goma e os ramos do jambu de modo bem distribuído, terminando
por colocar os camarões e um pouco mais do tucupi até quase completar a cuia.
Utiliza-se um palitinho de madeira para comer o camarão e o jambu. É servido
bem quente a qualquer hora do dia ou da noite, independente da temperatura e do
clima, pois, para nós nortistas, esteja quente ou frio, o tacacá é sempre
consumido escaldante.
Com relação a preocupação com a saúde, os apreciadores desta iguaria e
aqueles que pretendem enveredar por ela podem ficar tranquilos; uma pesquisa
promovida por alunos do curso de Nutrição da Universidade Federal do Pará,
publicada em 2006, mostrou que o Tacacá tem em média 123,09 Kcal para o seu
volume, que é em média de 544 ml. Dos componentes do tacacá, o mais calórico é
a goma com, 39,75 Kcal em média, seguida pelo camarão com 39,37 Kcal e pelo tucupi
com 29,14 Kcal. O menos calórico é o jambu, com apenas 14,83 Kcal. É composto
de 17,1g de carboidratos, 10,19g de proteínas e 1,9g de lipídeos. Esses valores
garantem o Tacacá como um alimento extremamente saudável e que pode ser
consumido por qualquer pessoa, com alguma certa atenção para os diabéticos e/ou
hipertensos. Além disso, não é problema para quem não quer engordar ou está de
dieta. Ufa!! Alívio…
Podemos achar esta maravilha fora da Amazônia?! Sim, com alguma
dificuldade conseguimos encontrá-la, como por exemplo, aqui em São Paulo nos
restaurantes Amazônia (cardápio fixo) e Tordesilhas, onde mensalmente, em um
dia previamente divulgado, serve-se o Tacacá em sua calçada; mas, pra mim em
particular, o “pai d’égua” mesmo é sentar no banco de uma das milhares de
“tacacazeiras” em Belém, por volta de umas 17:00h e apreciar esta iguaria como
se não houvesse amanhã.
Dica de Cozinhando com Amigos: Para quem mora no Rio, recomendo uma
lojinha que vende um tacacá de excelente qualidade – Tacacá do Norte – na Rua Barão do Flamengo. Para quem mora em Brasília,
recomendo a barraca do Pará, na feira da Torre de TV.
Adorei...parabéns!!!!
ReplyDeleteOi Cinara!
DeleteGrato por sua visita e seu gentil comentário.
Volte sempre!
Luiz
Melhor que tacacá só tapioca com castanha do Pará, farinha d'agua com camarão e açaí!!!! Índios amados da minha terrinha, quanta herença maravilhosa. Parabéns pelo texto...está perfeito.
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