Photo by James Fisher |
Até
que ponto vale à pena perseguir um prêmio de reconhecimento pelos seus feitos,
se a essência da premiação não está mais voltada para arte/criação em si?
Porque
perder o mister do silêncio da capacidade criativa e mesmo da improvisação, participando
de seleções em que os participantes usam de estratégias que acentuam
nitidamente a vaidade do “eu” e de se fazer modelo de vitrine etérea e
passageira?
A
diferença está na comparação entre “líder” e “chefe”. O primeiro é escolhido
pela sua capacidade de liderança. Uma escolha espontânea. Um reconhecimento
natural e verdadeiro. O segundo, é uma condição momentânea, é um lugar que hoje
“se está”, amanhã não mais.
Por
isso, digo que o melhor ou melhores, se sobressaem pelos eu talento nato. E se
mantêm no topo, justamente por isso. Sem que se aviltem ou necessitem de
flashes em seus 15 minutos de fama. Alguns até conseguem mais um pouco dos que
os 15 minutos. Enfim.
Reproduzo
a seguir, uma carta escrita por um Chef argentino, Francis Mallmann, o qual nutro
profunda admiração, pela sua “doideira” em criar e mostrar de forma original o
que se pode fazer para mantermos a essência da arte culinária. Do fazer, sem se
preocupar em brilhar ilusoriamente. De ser criativo apenas pelos prêmios.
Mallmann,
fez parte desta seleção de avaliadores e por não concordar com o que sentiu,
pediu seu afastamento a exatamente um ano atrás do corpo de jurados do The Wolrd’s
50 Best Restaurants.
Leiam
e reflitam sobre o texto.
Abraços.
Luiz
Claudio – Cozinhando com Amigos
“Muito
obrigado por me escolherem como um de seus jurados, mas decidi não votar mais
em seus prêmios. Sentia (que queria isso) nos últimos dois anos, e agora não
posso mais continuar.
Vejam: eu
cozinho há 40 anos. Como sabem, cozinha é um romance com ingredientes, espaço,
serviço, timing e silêncio. Observo sentimentos contrários em tantos de meus
colegas que estão tão preocupados com os prêmios que passam o ano fazendo lobby
perante o eleitorado, pulando de conferência em conferência e na minha opinião,
desperdiçando tempo valioso e distanciando-se dos reais valores que fazem um
restaurante.
Prêmios
criaram um ambiente fictício e ultra competitivo para nossa cultura
gastronômica. Inovação parece ser o principal valor. Embora não haja nada de
errado com (a inovação), afastou-nos da valorização de um ofício em favor do
que chamam de arte. Jovens chefs tentam atravessar pontes muito antes do que
deveriam só para serem diferentes, famosos ou novos. Arte é um pensamento
intelectual, e comida e vinho têm mais a ver com os sentidos e a partilha.
Comida e vinho fazem-nos mais aguçados, espirituosos. Só aí podem estimular
nossos pensamentos e melhorar nossa comunhão com colegas, amigos, amantes.
Certamente a cozinha pode ser intelectual, mas deveria sê-lo de modo mais
silencioso e –atrevo-me a dizer – humilde.
Certamente
me senti muito honrado quando (meu restaurante 1884) foi o sétimo colocado na
sua lista (The World’s 50 Best Restaurants), em seu primeiro ano de existência.
Mas é que minha vida na cozinha não tem mais elos com esse ranking.
Então
desejo-lhes tudo de bom e agradeço-lhes por haverem me deixado servir nesses
últimos anos em seu júri.
Partilhemos
pão juntos.
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