Sunday, September 29, 2013

Um texto delicioso de ler, escrito por um médico


Visitando o site Armazém das Especiarias, me deparei com uma matéria bem interessante, que eles publicaram na coluna “Médicos que cozinham”, assinada pelo médico cardiologista, Fernando Oikawa; paraense, que está morando em São Paulo e fazendo doutorado em coronariopatias e arterioesclerose.
Não se surpreenda por um médico “receitar” algo que possa lhe parecer exótico, pois a surpresa maior será saber que o que ele “indica” faz bem à saúde.
O texto é “saboroso” e interessante do ponto de vista nutricional, com uma pitada de informação histórica a respeito de um prato típico do Pará – o Tacacá.
Transcrevo na íntegra o texto, convidando a todos a visitar a página do Armazém das Especiarias, pois tem muitas outras informações bem interessantes a respeito do universo gastronômico.
Boa leitura e bom apetite!

Estava eu, no meu dia-a-dia hospitalar, neste clima flutuante de São Paulo  das últimas semanas, e me veio à cabeça o que eu estaria fazendo nesta época em minha região. Certamente estaria na praia, já que a região Norte encontra-se em pleno “verão”!! Praias típicas como Salinas, Mosqueiro e Algodoal, nesta época, enfrentam o mormaço infernal dos trópicos, abarrotadas de pessoas nativas e turistas; porém, apesar deste calor, os nortistas continuam a apreciar as iguarias amazônicas, mesmo tendo sabores fortes e picantes; foi neste contexto que me lembrei de um prato muito típico (talvez o mais típico e tradicional da região Norte), o qual sempre saboreei em plena tarde quente de Belém, o Tacacá!!! Muito nutritivo, afrodisíaco, exótico, de baixa caloria e delicioso o Tacacá é uma verdadeira viagem nos sentidos, sendo encontrado principalmente nos estados do Acre, Amazonas, Pará, Rondônia e Amapá.
Sua origem é dos indígenas paraenses e, segundo Câmara Cascudo, deriva de um tipo de sopa indígena denominada mani poí. Câmara diz que “Esse mani poí fez nascer os atuais tacacás, com caldo de peixe ou carne, alho, pimenta, sal, às vezes camarões secos”.
Historicamente, seu primeiro registro ocorreu no século XVIII, em plena Inquisição onde existe um documento que descreve o assassinato de uma mulher pela índia que trabalhava para ela: “…a morte foi consumada por um tacacá envenenado”, narra o historiador Aldrin Figueiredo.
Esta delícia é preparada com um caldo fino e bem temperado chamado tucupi (sumo este extraído da mandioca formando um líquido amarelo e encorpado), a goma de tapioca (resultado da lavagem da mandioca ralada, tem um aspecto diferente, como uma geleia levemente branca), camarões seco e jambu (erva típica da região Norte, ela dá a famosa sensação de tremor nos lábios e adormecimento na língua). Para montarmos o prato ou a cuia (utensílio indígena onde é servido), colocamos  primeiramente um pouco do tucupi e o caldo da pimenta-de-cheiro (cumari); acrescentamos a goma e os ramos do jambu de modo bem distribuído, terminando por colocar os camarões e um pouco mais do tucupi até quase completar a cuia. Utiliza-se um palitinho de madeira para comer o camarão e o jambu. É servido bem quente a qualquer hora do dia ou da noite, independente da temperatura e do clima, pois, para nós nortistas, esteja quente ou frio, o tacacá é sempre consumido escaldante.
Com relação a preocupação com a saúde, os apreciadores desta iguaria e aqueles que pretendem enveredar por ela podem ficar tranquilos; uma pesquisa promovida por alunos do curso de Nutrição da Universidade Federal do Pará, publicada em 2006, mostrou que o Tacacá tem em média 123,09 Kcal para o seu volume, que é em média de 544 ml. Dos componentes do tacacá, o mais calórico é a goma com, 39,75 Kcal em média, seguida pelo camarão com 39,37 Kcal e pelo tucupi com 29,14 Kcal. O menos calórico é o jambu, com apenas 14,83 Kcal. É composto de 17,1g de carboidratos, 10,19g de proteínas e 1,9g de lipídeos. Esses valores garantem o Tacacá como um alimento extremamente saudável e que pode ser consumido por qualquer pessoa, com alguma certa atenção para os diabéticos e/ou hipertensos. Além disso, não é problema para quem não quer engordar ou está de dieta. Ufa!! Alívio…
Podemos achar esta maravilha fora da Amazônia?! Sim, com alguma dificuldade conseguimos encontrá-la, como por exemplo, aqui em São Paulo nos restaurantes Amazônia (cardápio fixo) e Tordesilhas, onde mensalmente, em um dia previamente divulgado, serve-se o Tacacá em sua calçada; mas, pra mim em particular, o “pai d’égua” mesmo é sentar no banco de uma das milhares de “tacacazeiras” em Belém, por volta de umas 17:00h e apreciar esta iguaria como se não houvesse amanhã.

Dica de Cozinhando com Amigos: Para quem mora no Rio, recomendo uma lojinha que vende um tacacá de excelente qualidade – Tacacá do Norte – na Rua Barão do Flamengo. Para quem mora em Brasília, recomendo a barraca do Pará, na feira da Torre de TV.

3 comments:

  1. Replies
    1. Oi Cinara!

      Grato por sua visita e seu gentil comentário.

      Volte sempre!

      Luiz

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  2. Melhor que tacacá só tapioca com castanha do Pará, farinha d'agua com camarão e açaí!!!! Índios amados da minha terrinha, quanta herença maravilhosa. Parabéns pelo texto...está perfeito.

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