Elídio Raimondi em seu famoso bar - um dos redutos gastronômicos da boemia paulistana
Foto de Mário Rodrigues
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Pois é, dizem que o
botequim é uma instituição. Não aquele botequim, “pé-sujo”, repleto de
desocupados e cachaceiros; falo dos botequins onde você pode entrar com sua
família e almoçar tranquilo, pois sabe que a comida tem bom preço e é de boa
qualidade. Mas fazer com que um boteco perdure por muito tempo, não basta que
ele seja sustentado pela turma da cerveja ou da pinga, tem que ter algo mais
que justifique sua fama e sua consolidação no comércio. O que pode ser
determinante para isso, é sua competência na cozinha; é claro que o bom
atendimento será sempre o fator preponderante do retorno do cliente, mas a
cozinha amigos, esta sim dará a fama necessária a sua longa existência.
Porém, existem
determinados detalhes gastronômicos, que apesar de não serem os pratos
principais, fazem um diferencial no cardápio do dito estabelecimento. São os
petiscos. Uma variedade quase infinita que cada boteco tem, com especialidades
próprias, receitas “secretas”, petiscos tradicionais e até exóticos, como
cabeça de peixe à doré, que encontrei
em um boteco no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro.
Em cidades como Rio de
Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte ainda podemos encontrar botecos antigos que
mantêm em seus cardápios, petiscos tradicionais, expostos em vidros de
conserva, sobre o balcão de mármore, tais como: cebolinhas, picles, pepininhos,
batatinhas, alho no azeite, tremoços, jiló, azeitonas preta e verde, ovos de
codorna em conserva, salsichas, etc.
Poderíamos fazer uma lista
enorme de petiscos e certamente teríamos que atualizá-la tão logo a publicássemos;
por isso, nem me atrevo a continuá-la. Mas independente das inúmeras opções de
escolha, o que sempre me chamou a atenção, foi que por vezes, a opção do
petisco era mais forte do que prato principal, deixando de ser a “entrada” para
se tornar o prato principal. Chouriços no pão, bifes de fígado com jiló e
cebolas – tudo bem fritinho em frigideira de ferro fundido; manjubinha frita,
sardinha à doré, mexilhões ao vinagrete, caranguejo, casquinha de siri, bolinhos
de bacalhau, carne-seca desfiada com anéis de cebola, e tantas outras coisas,
que estou escrevendo com água na boca, só de pensar.
Enfim; não sei se a
“instituição boteco” se perpetuará diante da modernização do comércio, onde os
shoppings tomam conta do comércio das cidades e os bares e restaurantes, a cada
dia que passa, modernizam suas instalações, oferecendo outras opções
gastronômicas aos fregueses, bem diferentes das encontradas nestes tradicionais
lugares. Provavelmente permanecerão as receitas, pois estas sim são
instituições gastronômicas que se perpetuam na memória e no paladar do povo
brasileiro.
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