Friday, April 15, 2011

Jorge Amado e Dona Flor




     Por considerar que a gastronomia não está desassociada de outras formas de arte Cozinhando com Amigos faz uma justa homenagem a um dos maiores escritores que o Brasil já teve – Jorge Amado.
     Nascido na Bahia, Jorge Amado soube muito bem descrever com poesia e com a percepção dos grandes escritores, a vida do povo baiano; seus costumes, seu jeito de ser, a descrição dos cenários tanto do litoral quanto do sertão, povoam a cabeça de milhares de leitores – aqui no Brasil e também em outros 52 países. Seus livros foram vertidos para 49 idiomas e dialetos: albanês, alemão, árabe, armênio, azeri, búlgaro, catalão, chinês, coreano, croata, dinamarquês, eslovaco, esloveno, espanhol, esperanto, estoniano, finlandês, francês, galego, georgiano, grego, guarani, hebraico, holandês, húngaro, iídiche, inglês, islandês, italiano, japonês, letão, lituano, macedônio, moldávio, mongol, norueguês, persa, polonês, romeno, russo, sérvio, sueco, tailandês, tcheco, turco, turcomano, ucraniano, e vietnamita ; e também três em braille.
     Jorge Amado faleceu em 6 de agosto de 2001, na cidade de Salvador; deixando saudades, mas em compensação, deixou também, uma bibliografia fantástica e que Cozinhando com Amigos, destaca uma em especial, pois tem a ver com nosso ambiente culinário – Dona Flor e seus dois maridos.
     Este romance, escrito em 1966, conta a história de Dona Flor e seus dois maridos – Vadinho e Teodoro, em uma divertida narrativa. Flor, como era chamada, era uma excelente cozinheira e ministrava cursos de culinária, para auxiliar nas despesas da casa.
     Cozinhando com Amigos, traz então, uma das receitas, senão a mais famosa, que D. Flor ensinou a suas alunas.

Escola de Culinária Sabor e Arte
Receita de Dona Flor: Moqueca de siri mole


Aula teórica: Ingredientes (para 8 pessoas): uma xícara de leite de coco, puro, sem água; uma xícara de azeite de dendê,; um quilo de siri mole. Para o molho: três dentes de alho; sal ao gosto; o suco de um limão; coentro; salsa; cebolinha verde; duas cebolas; meia xícara de azeite doce; um pimentão; meio quilo de tomates. Para depois: quatro tomates; uma cebola; um pimentão.

Aula prática:
Ralem duas cebolas, amassem o alho no pilão;
cebola e alho não empestam, não, senhoras,
são frutos da terra, perfumados.
Piquem o coentro bem picado, a salsa, alguns tomates,
a cebolinha e meio pimentão.
Misturem tudo em azeite doce e a parte ponham
esse molho de aromas suculento.
(essas tolas acham a cebola fedorenta,
que sabem elas dos odores puros?
Vadinho gostava de comer cebola crua
e seu beijo ardia).

Lavem os siris inteiros em água de limão,
lavem bastante, mais um pouco ainda,
para tirar o sujo sem lhes tirar a maresia.
E agora a temperá-los: um a um
no molho mergulhando, depois na frigideira
colocando um a um, os siris com seu tempero.
Espalhem o resto do molho por cima dos siris
bem devagar que esse prato é muito delicado.
(ai, era o prato preferido de Vadinho!)

Tomem de quatro tomates escolhidos, um pimentão,
uma cebola, tudo por cima e em rodelas coloquem para dar
um toque de beleza. No abafado por duas horas deixem
a tomar gosto. Levem depois a frigideira ao fogo.
(Ia ele mesmo comprar o siri mole,
possuia freguês antigo, no Mercado...)

Quando estiver quase cozido e só então
juntem o leite de côco e no finzinho
o azeite de dendê, pouco antes de tirar do fogo.
(Ia provar o molho a todo instante,
gosto mais apurado ninguém tinha)

Aí está esse prato fino, requintado, da melhor cozinha,
quem o fizer pode gabar-se com razão
de ser cozinheira de mão cheia.
Mas, se não tiver competência, é melhor não se meter
nem todo mundo nasce artista do fogão.
(Era o prato predileto de Vadinho
nunca mais em minha mesa o servirei.
Seus dentes mordiam o siri mole,
seus lábios amarelos do Dendê.
Ai, nunca mais seus lábios,
sua língua, nunca mais
sua ardida boca de cebola crua!)

Jorge Amado, in Dona Flor e seus dois maridos
pág. 41 – Ed.Recor/Altaya - 1995

4 comments:

  1. Hello Luiz! Nice to find your blog, looking forward to sharing

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  2. Complimenti per il blog, veramente interessante!
    Jorge Amado è molto famoso anche in Italia e questa ricetta letteraria sembra magnifica...

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  3. Sounds delicious! I like how the crabs are washed in lemon water and being careful not to wash out all the saltiness. And I like the story at the end.

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  4. Parabens! Me encanta tu blog, no he leido Doña Flor y sus dos maridos" (aunque vi la película), pero sí "Tieta de Agreste" y "Gabriela clavo y canela", dos libros maravillosos. La receta que publicas, además de literaria, es hermosa....Felicidades, desde Maracaibo, Venezuela!

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