Monday, April 9, 2012

Bobó de Camarão



Não por coincidência a Bahia tem o privilégio de possuir entre suas filhas da terra, excelentes cozinheiras. Já desde meninas, tomam conhecimento dos segredos da arte de cozinhar, muitas vezes recebidas das avós, senhoras de seus dons, de origem africana. Na reverência aos orixás, a culinária baiana tem sua riqueza; e conhecer estes pratos é uma oportunidade ímpar, pois não é qualquer lugar se prova ou saboreia tais requintes gastronômicos. 


Pois foi em uma dessas oportunidades que a vida nos reserva, que tive o prazer de conhecer Flora, companheira de meu grande amigo Ismael – um profundo conhecedor de jazz e bossa nova – que me fez gostar mais ainda destes dois estilos musicais.
Mas é de Flora que quero falar. Nome este, tão parecido com o de D. Flor, aquela dos dois maridos, fundadora da Escola de Culinária Sabor e Arte, tão bem retratada pelo mestre Jorge Amado. Pois bem, Flora tem o dom de cozinhar; e por ser baiana isto não é mais uma originalidade. É uma constatação.
Flora é daquelas pessoas com quem você simpatiza de imediato. Daquelas baianas, tamanho G, com atributos que os portugueses – o da padaria e o do botequim – suspiravam quando ela passava com seu balanço cadenciado. Suspiros lusitanos, a sonhar com imagens impossíveis de serem realizadas.


Peixadas, tortas de camarão, moquecas, manjubinhas fritas, acarajé, vatapá, galinha de cabidela, mocotó, feijoada, “porquinho” frito, caldinho de sururu e bobó de camarão, eram suas especialidades. Babávamos literalmente, ao sermos honrados com um ou dois pratos daquele cardápio, cada vez que íamos a casa deles, para ouvir disco, falar de política, dos filmes e no meu caso, também ver Flora cozinhando e tentar aprender um pouco de como fazer aquelas delícias.
Aprendi algumas. Das que aprendi, o bobó de camarão foi uma das que mais fez sucesso nas vezes que fiz. Ainda bem, pois não poderia decepcionar minha professora, pois se ela o fazia tão bem, era um dever meu chegar o mais próximo possível. Ah! Minha professora, que saudades. Por onde andarás? Não lhe vejo há muito, desde que vim do Rio de Janeiro para Brasília.
Escrevo hoje, esta receita de Bobó de Camarão, em sua homenagem. Lembrando-me daquelas noites de convivência contigo e com Ismael, degustando a nata da cozinha baiana. Fica com Deus minha amiga!

Ingredientes

1,5 kg de mandioca (das amarelas é bem melhor)
500 g de mandioquinha (batata baroa)
1 kg de camarão GG (sem cabeça e sem casca)
200 g de camarão sem cabeça, com casca
1 cebola grande bem picada
5 dentes de alho bem picados
1 litro de leite de coco
1 colher de sopa de azeite de dendê*
pimenta (opcional)
Azeite extra virgem
Sal a gosto

* Obs.: Para quem não gosta de azeite de dendê, substitua por açafrão espanhol.

Modo de fazer

Descasque a mandioca e coloque-as para cozinhar em água fervendo. Adicione sal a seu gosto. Faça o mesmo com as mandioquinhas em outra panela. Deixe cozinhando até que fiquem bem macias, desmanchando mesmo. Quando a mandioca estiver cozida, retire os talos fibrosos do meio dela. Amasse-a bem, formando uma massa uniforme, sem “caroços”. Faça o mesmo com a mandioquinha. Reserve.
Em uma panela de barro (pode ser outra, mas essa é mais original, concorda?), coloque azeite em boa quantidade e doure a cebola e o alho, até ficar bem dourados – atenção, para o alho não ficar escuro. Adicione os camarões e deixe cozinhando de 8 a 10 minutos, em fogo baixo (160º). Tempere com sal e pimenta, a seu gosto.
Quando estiverem cozidos, coloque a massa da mandioca e da mandioquinha. Acrescente o leite de coco e mexa com cuidado até formar um mingau. Corrija o sal, se necessário. Adicione o azeite de dendê (ou o açafrão). Mexa até ficar bem amarelinho. Deixe cozinhando por cerca de 10 minutos, sempre em fogo baixo. Se quiser, coloque a pimenta de sua preferência. Assim que estiver formando bolhas, está pronto. Sirva quente.

Esta receita serve 20 porções.

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