Monday, March 14, 2011

Catarina da Rússia e a omelete da Imperatriz

 
    Catarina II, (1729 - 1796) princesa alemã casada com o grã-duque Pedro, herdeiro do trono da Rússia, governou o Império Russo expandindo-o, melhorando sua administração e continuando a modernizá-lo. O reinado de Catarina revitalizou a Rússia, que cresceu com mais força e tornou-se conhecida como uma das maiores potências européias.
    Os seus sucessos dentro da complexa política externa e as suas represálias por vezes brutais em resposta aos movimentos revolucionários andavam de mãos dadas com sua caótica vida privada. Ela causava escândalo frequentemente, devido aos inúmeros amantes que tinha. A estes, elevava o cargo no auge da paixão, e mandava-os para longe quando a paixão se apagava.
    Tinha uma prodigiosa vitalidade e boa saúde. Acordava às cinco da madrugada para trabalhar e dormia tarde, aproveitando para fazer amor com o amante da vez. Seu café da manhã era no mínimo inusitado, pois ela apreciava beber chá com vodca acompanhado de uma omelete de caviar.
    Como dizem que o caviar é afrodisíaco, credito essa vitalidade sexual às pequenas e caríssimas ovas que serviram tão bem a famosa imperatriz.
Isabel Allende, escritora chilena, relata em seu livro - Afrodite - Ed. Bertrand Brasil - 1997, uma interessante e divertida receita, para ser preparada para um casal apaixonado. Boa dica para um dia de romance, ao som de uma balalaika, de preferência. Bom apetite...em todos os sentidos!


 
 Omelete da Imperatriz

    Para duas pessoas apaixonadas são necessários cinco ovos recém-postos por uma galinha virgem, meia xícara de caviar beluga, se possível trazido do mar Báltico, quatro fatias finas mas suculentas de salmão defumado da Noruega, manteiga fresca do campo, cebolinha picada, sal, pimenta, duas colherinhas de creme de leite azedo (sour cream) e, naturalmente, pão torrado. Com delicadeza quebram-se os ovos em um recipiente de porcelana fina - por elegância e não por qualquer outra razão - e batem-se levemente com sal e pimenta. Esquenta-se a manteiga na frigideira sagrada de todo bom cozinheiro e logo que ela começar a ficar da corzinha de uma pele caribenha, colocam-se os ovos. Quando a omelete está meio cozida por baixo, deve desprendê-la com infinita suavidade, sussurrando para convencê-la, porque se for violentada perde sua encantadora disposição; coloca-se dentro a cebolinha e o salmão e se dobra pela metade, como quem fecha um livro. Para soltá-la completamente, os especialistas mexem a frigideira com um vaivém sincopado de bom dançarino e depois, com um golpe brusco do pulso, lançam-na pelos ares e a recolhem virada, assim fica dourada dos dois lados, mas cada vez que tentei fazer isso ela caiu na minha cabeça. Essas piruetas são puro exibicionismo; ao se fazer uma omelete, assim como ao fazer amor, conta mais o carinho que a técnica. Sirva-a nos pratos mais bonitos que conseguir, previamente aquecidos no forno. Coloque o caviar por cima e ao lado o pão crocante recém-torrado e o creme de leite azedo. Depois de uma noite de amor, este é o café da manhã indicado para continuar amando sem trégua pelo resto do dia.
Isabel Allende.


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